Emicida, Elisa Lucinda - Milionário do Sonho letra (lyrics)

[Emicida, Elisa Lucinda - Milionário do Sonho letra lyrics]

É o que eu digo e faço, não suponho
Sou milionário do sonho
É o que eu digo e faço, não suponho
Sou milionário do sonho
É difícil pra um menino brasileiro
Sem consideração da sociedade
Crescer um homem inteiro
Muito mais do que metade
Fico olhando as ruas
As vielas que ligam meu futuro ao meu passado
E vejo bem como driblei o errado
Até fazer taxista crer
Que posso ser mais digno do que
Um bandido branco e becado
Falo querendo entender
Canto pra espalhar o saber
E fazer você perceber que há sempre um mundo
Apesar de já começado
Há sempre um mundo pra gente fazer
Um mundo não acabado, um mundo filho nosso
A nossa cara, um mundo que eu disponho agora


Foi criado por mim
Euzim, pobre curumim, rico
Franzino e risonho sou milionário do sonho


Ali vem um policial que já me
Viu na TV espalhar minha moral
Veio se arrepender de ter me tratado mal
Chegou pra mim sem aquela cara
De mau: Fala, mano, abraça, mano
Irmãos da comunidade, sonhadores e iguais
Sei do que estou falando
Há um véu entre as classes, entre as casas
Entre os bancos há um véu, uma cortina, um
Espanto que, para atravessar, só rasgando
Atravessando a parede, a invisível parede
Apareço no palácio, na tela
Na janela da celebridade
Mas minha palavra não sou só eu
Minha palavra é a cidade
Mundão redondo, Capão Redondo
Coração redondo na ciranda da solidariedade
A rua é noiz, "cumpadi"
Quem vê só um lado do mundo
Só sabe uma parte da verdade
Inventando o que somos
Minha mão no jogo eu ponho
Vivo do que componho, sou milionário do sonho

Vou tirar onda
Peguei no rabo da palavra e fui com ela
Peguei na cauda da estrela dela
A palavra abre portas, cê tem noção?
É por isso que educação, você sabe
É a palavra-chave
É como um homem nu todo vestido por dentro
É como um soldado da paz armado de
Pensamentos, é como uma saída, um portal
Um instrumento
No tapete da palavra chego rápido, falado
Proferido na velocidade do vento
Escute meus argumentos
São palavras de ouro, mas são palavras de rua
Fique atento
Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho
Em movimento, cheio de armação, emaranhado
Crespura e bom comportamento grito bem alto
Sim? Qual foi o idiota que concluiu
Que meu cabelo é ruim?
Qual foi o otário equivocado que decidiu
Estar errado o meu cabelo enrolado?
Ruim pra quê? ruim pra quem?
Infeliz do povo que não sabe de onde vem
Pequeno é o povo que não se ama, o povo que
Tem na grandeza da mistura o preto, o índio
O branco a farra das culturas
Pobre do povo que, sem estrutura
Acaba crendo na loucura de ter que
Ser outro para ser alguém
Não vem que não tem
Com a palavra eu bato, não apanho
Escuta essa, neném, sou milionário do sonho
Por isso eu digo e repito: Quem quiser ser
Bom juiz deve aprender com o preto benedito

O mundo ainda não está acostumado
A ver o reinado
De quem mora do outro lado da ilusão
A ilusão da felicidade tem
Quatro carros por cabeça
Deixando o planeta sem capacidade
De respirar à vontade
A ilusão de que é mais vantagem cada casa
Mais carro que filho
Cada filho menos filho que carro
Enquanto eu com meu faro vou tirando onda
Vou na bike do meu verbo tirando sarro
Minha nave é a palavra
É potente o meu veículo sem código de barra
Não tem etiqueta embora sua marca seja boa
Minha alma é de boa marca
Por isso não tem placa, tabuleta, inscrição
Meu cavalo pega geral, é pegasus, é genial
A palavra tem mil cavalos quando eu falo
Sou embaixador da rua
Não esqueço os esquecidos e eles
Se lembram de mim
Sentem a lágrima escorrer da minha voz
Escutam a música da minha alma
Sabem que o que quero pra mim
Quero pra todo o universo
É esse o papo do meu verso

Mas fique esperto porque sonho
É planejamento, investimento, meta
Tem que ter pensamento, estratégia, tática
Eu digo que sou sonhador
Mas sonhador na prática
Tô ligado que a vida bate
Tô ligado quanto ela dói
Mas com a palavra me ergo e permaneço
Porque a rua é nóiz
Portanto, meu irmão, preste atenção no que
Vende o rádio, o jornal, a televisão
Você quer o vinho, eles encarecem a rolha
Deixa de ser bolha e abre o olho pra situação
A palavra é a escolha, a escolha é a palavra
Meu irmão se liga aqui, são palavras de um
Homem preto, samurai, brasileiro, cafuzo
Versador com tambor de ideias pra disparar
Não são palavras de otário, já te falei
Escreve aí no seu diário:
Se eu sou dono do mundo
É porque é do sonho que eu sou milionário!

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