Marcello Gugu, Sérgio Ribeiro - Herói (skit) letra (lyrics)

[Marcello Gugu, Sérgio Ribeiro - Herói skit letra lyrics]

Enquanto na Usp formulam-se teses de
Que se o nordeste fosse
Na sua imaginação rabisca no ar a
Chuva que o céu não trouxe da onde ele vem
O sol e a seca são inimigos cordiais
Que fazem o povo aquietar os
Sonhos em pequenos mananciais
Mas ele é flor de juazeiro
Vive anos sem regar por que ali
O único lugar onde brota agua é o olhar
Teve o apreço dos céus em rezas de benzedeira
Pro berço dos poetas
O sertão se fez parteira
A mãe? Referencia de cozinheira
E corona de romaria
O pai? Sanfoneiro devoto de padre
Cícero e namorador de poesia
Viu do mundo a covardia
Mas não se deixou abalar
Quando desejos viram desertos
A esperança se faz Yemanjá


Carrega um universo na imensidão do seu peito
Chamou a vida prum arrasta-pé e
Agarrou a de jeito
Mas quando a vida vira escola
O aprendizado se torna rude
Faz das marcas do seu rosto
Profundas sangrias de açude
Viu um tempo de estiagem
Quando Sivuca se calou
E anjos disseram que seu pai
Não viveria pra ser avô
Pra sua mãe então perguntou, São
Paulo é santo, faz milagre
Mas transforma suor em prata?
E ela respondeu, como dizer que São Paulo é
Santo se São Paulo mata?

Naquele ônibus nosso herói vira
Cordel sem aviso
Nem desconfiava que até na cidade a
Consolação ficava distante do paraíso
Aos poucos o dia nasce
Numa preguiçosa sabatina
E ele que já foi rebeldia Lampião
Hoje não é nem birra lamparina
O ônibus forrozeia pela estrada e o
Céu cinza faz da crença jus
Que cada nordestino é Cristo
Porque São Paulo sempre é cruz
Mas ele vem sem medo e sem chance
10 anos atrasado
Se um dia foi figura de cortejo
Hoje magro igual o gado
Seco como carne de sol
Vida simples sem esmero
Vítima de um governo que acha que salva
O mundo com o programa fome zero
Soweto e Haiti não estão a milhares de léguas
Estão presentes em cada metro quadrado
De uma seca sem trégua
Traz bandeirolas de preces
Trincheiras de stress
E faz do cordel um Projac
Onde a vida é fantasia que acontece
Bom samaritano tem o suor
Como honra ao mérito
Lamentos sertanejos nascem cada vez que
A seca abre um inquérito
Ele já foi feira de mangaio
Carambolas em tom pastel
Bolo de rolo, baião de dois
Felicidade a granel
Já foi manhã céu seda azul
Em cenários de cinema
Onde migalhas da vaidade flertavam
Um sertão poema

Na rodoviária angustia e sereno marfim
Lavam teu coração como as escadas
Do nosso Senhor do Bonfim
O que um dia foi folia e sorriso sabor cuxá
Hoje é uma suplica cearense
Feita de vontades de voltar
Ele mal sabe orar
Mas mantem a fé sempre por perto
Traz rugas de gente sofrida
Bolsos vazios e braços abertos
Na cidade dos espertos onde o
Amor pode camuflar aversão
Sua moqueca de sururu virou
As sobras do mercadão
Comentários de chacais são drinks
De deboche e mágoa
Pois seus corações de cactos não
Veem valor em pingos d’água
O futuro tão promissor virou o cavalo piancó
Que em cada trote manco reduzia
Seus almejos a pó
O toque do seu despertador traz a
Tona o que cada manhã promete
Mas, celebrar a vida na caatinga ensina
A fazer da poeira confete
Aprendeu a ler com propagandas e vitrines
Sonhava em com as modelos
Dos anúncios de biquíni
Queria ter conhecido um tal de
Santos Dummond
Quando no aeroporto de Congonhas
Foi contratado como garçom
Montou a vida a prestação e vivia sorrindo
Por que cada manhã é um nascimento
E da vida nascer é o momento mais lindo
Foi trabalhador, pai de família
Do fel fez creme
Viu homens invisíveis como ele
Encherem trens da CPTM
Dançou, sorriu, sentiu, chorou
Cantou, sofreu, perdeu, ganhou
Tomou banho de chuva tocou os joelhos no chão
E de desejos contidos fez teu sagrado coração
Hoje velho na oração, diz a frei Damião, ói
Da vida eu provei de tudo e
Se morrer hoje morro herói

Interpretação para


Adicionar interpretação

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z #
Interpretar