Amália Rodrigues, Vinícius de Moraes - Balada do mangue letra (lyrics)
[Amália Rodrigues, Vinícius de Moraes - Balada do mangue letra lyrics]
Que à noite despetalais
As vossas pétalas tóxicas!
Pobre de vós, pensas, murchas
Orquídeas do despudor
Não sois L? lia tenebrosa
Nem sois Vanda tricolor
Sois frágeis, desmilingüidas
Dálias cortadas ao pé corolas descoloridas
Enclausuradas sem fé
Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu para assim envenenardes
O pólen que Deus vos deu?
No entanto crispais sorrisos
Em vossas jaulas acesas
Mostrando o rubro das presas
Falando coisas do amor
E às vezes cantais uivando
Como cadelas à lua que em vossa rua sem nome
Rola perdida no céu
Mas que brilho mau de estrela
Em vossos olhos lilases
Percebo quando, falazes
Fazeis rapazes entrar!
Sinto então nos vossos sexos
Formarem-se imediatos os venenos putrefatos
Com que os envenenar ó misericordiosas!
Glabras, glúteas caftinas
Embebidas em jasmim jogando cantos felizes
Em perspectivas sem fim
Cantais, maternais hienas
Canções de caftinizar gordas polacas serenas
Sempre prestes a chorar
Como sofreis, que silêncio
Não deve gritar em vós
Esse imenso, atroz silêncio
Dos santos e dos heróis!
E o contraponto de vozes
Com que ampliais o mistério
Como é semelhante às luzes
Votivas de um cemitério
Esculpido de memórias!
Pobres, trágicas mulheres multidimensionais
Ponto morto de choferes passadiço de navais!
Louras mulatas francesas
Vestidas de carnaval
Viveis a festa das flores
Pelo convés destas ruas ancoradas no canal?
Para onde irão vossos cantos
Para onde irá vossa nau?
Por que vos deixais imóveis
Alérgicas sensitivas
Nos jardins desse hospital
Etílico e heliotrópico?
Por que não vos trucidais ó inimigas ou bem
Não ateais fogo às vestes
E vos lançais como tochas
Contra esses homens de nada
Nessa terra de ninguém!