Eduardo Taddeo - Estamos Mortos letra (lyrics)
[Eduardo Taddeo - Estamos Mortos letra lyrics]
Comendo sobras de lixeiras
Erguendo as mãos para pedir esmolas
Fumando crack
Perdendo a saúde puxando carroças de papelão
Não existe vida em DPs
CDPs, viaturas, reformatórios
Presídios e tribunais
Não existe vida nos subempregos
com salários de fome
Nas casas devastadas pelo lícito alcoolismo
Nas mulheres reféns do machismo
E da violência doméstica
Não existe vida nas esquinas e puteiros que
Estupram as crianças invisíveis do Brasil
Não existe vida nos bolsões
De miséria que fazem
Arma serem atrativas pros meninos e meninas
Que antes dos 25 estarão em caixões lacrados
Quem vive de luto já tá enterrado com
O ente querido que se foi
Quem viu o filho desaparecer
Depois do enquadro
Da polícia perdeu qualquer razão para viver
Quem é o número de matrícula
Prisional não passa de uma
Alma que vaga pelo cárcere
De presídio em presídio
Morremos quando rimos do menor que aparece
Na Internet sendo torturado em supermercados
Quando aceitamos as versões oficiais
Que alegam que
O excluído executado pela PM atirou primeiro
Quando aceitamos os laudos manipulados que
Apontam que as balas que
Mataram a criança negra saíram
Do armamento do tráfico
Morremos quando votamos nos que
Afirmam que a pacificação
Do país passa pela aniquilação
Dos menos favorecidos
Se não fôssemos corpos vazios
Equilibrados por sistemas esqueléticos
Não teríamos opiniões formadas pelos que
Monopolizam os meios de comunicação
Se não fôssemos apenas sistemas
Respiratórios aspirando pólvora
Tiraríamos do poder os tiranos que
Aprovam decretos que acabam em
Helicópteros brincando de tiro ao
Alvo em comunidades carentes aí, opressor
Eu sei que você comprou com a sua
Riqueza suja o direito da existência
Eu sei que você conhece a estrita legalidade
Conhece o respeito à integridade física
Psíquica e moral
Tem o privilégio de pensar de forma
Independente sem coação televisiva
E educacional
Eu sei que você sabe que o código penal
E o martelo do juiz jamais de alcançarão
E é por essa e outras, arrombado
Que quanto mais
Retalham o nosso direito a uma vida digna
Mais põe seu coração podre na
Mira de uma Sig Sauer
Vamos segurar faixas de luto
Pelas escolas militarizadas
Pela liberação das armas
Vamos prestar condolências para
A sociedade que
Aplaude a política do confronto em
Conjunto com a política do nepotismo, do
'fake news', do judiciário partidário
Do roubo de presidências irmão de guerra
Sinto muito em te informar que quem
Não tem o padrão de vida
Estabelecido na Constituição Federal já tá
Em estado avançado de putrefação
Quem tem a probabilidade de uma morte
Violenta por sua condição financeira
E cor de pele já sobrevive
Dentro de um túmulo
A coroa de flor é só um detalhe para nós
Que caminhamos sem vida na
Escuridão da indigência viver é ter a opção
De crescer profissionalmente e
Intelectualmente, de não ser
Metralhado pela polícia
De não ser torturado num
Sistema prisional puramente vingativo
Enquanto não pudermos impedir o
Genocídio, o racismo
A alienação, o aprisionamento em massa
A pobreza extrema e a anulação social
Não passaremos de cadáveres que respiram
Meus pêsames para todos nós que
Vegetamos no necrotério dos vivos